7 de dezembro de 2009

Somos todos iguais

Eu queria postar as fotos da visita ao orfanato de sábado, mas não tive tempo pra descarregar as fotos ontem e hoje esqueci a câmera em casa.
Sabe, a maior lição que a gente aprende em um orfanato é que não existe diferença entre as pessoas... Eu levei meu sobrinho de coração comigo e no inicio ele ficou meio sem jeito mas logo se enturmou com a criançada e brincou muito com eles...

Hoje recebi por email um texto que retrata bem essa lição...
'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoasenxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionadosob esse critério, vira mera sombra social.

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhouoito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seresinvisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiucomprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, umapercepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisãosocial do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário deR$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior liçãode sua vida:

'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, podesignificar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica opesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e nãocomo um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USPpassavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam meignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',diz.No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram umagarrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinhacaneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outraclasse, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, algunsse aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixopegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade eserviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava numgrupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca aprecieio sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, eclaro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas derefrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tembarata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada,parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversarcomigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aíeu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei peloandar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei nabiblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passeiem frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo essetrajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. Omeu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa dacabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também asituações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor seaproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passarpor mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivessepassando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você estáinserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acreditoque essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esseshomens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casadeles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles sãotratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelonome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.

Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida! Respeito: passe adiante!
bjo.tchau

5 comentários:

Blog da Fatima disse...

Nanda!!!
Que home de coragem esse moço einh?
Não sei se eu conseguiria viver por oito anos a margem da sociedade, mesmo sabendo que aquilo ali era por pouco tempo. Sabe que eu admiro esse povo humilde que varre as ruas, que são sujadas por nós mesmos. Já imaginou se não fossem eles a fazer esse trabalho, nós iriamos viver num mundo de sujeira? Sim, pq acredito que muitos burguesinhos não iriam pegar uma vassoura e varrer as frentes de suas casas!
Merecem nosso destaque!!
Lindo o texto.

Bjos no ♥

Uma Mulher de Fases disse...

Nanda, vc não é a pior amiga do universo, é a melhor, mas eu entendo que sua vida está uma loucura, vô doente, mãe longe, casa sozinha, sacolinhas, trabalho, vida pessoal não é fácil.
Quanto à tese do Psicólogo, ele está certo, a pior coisa é ser ignorado, eu pela educação que tive, sempre comprimentei à todos, sejam garis, sejam executivos, educação não tem classe social.
Quanto ao seu avô, estou na torcida, como sempre!

Beijossss

Carlos Rufato disse...

Oi Nanda, adorei muito ter ido lá tbm e realmente espero poder fazer mais por aquelas crianças. To esperando vc ligar lá pra ver aquele assunto da manutenção e me dar um retorno, em relação à sua multa deu mais de vinte por cento da máxima e cai como infração grave, cinco pontos no prontuário e o valor é R$ 127,69, se pagar quando chegar a multa na data de vencimento tem 20% de desconto. Bjos

Hugo de Oliveira disse...

Ser ignorado é horrível. Durante 19 anos de minha vida era essa palavra que estava presente em meu registro e em meu rg, bem no lugar do pai...estava escrito IGNORADO. Nunca fiquei triste por isso, mas sempre fiquei a pensar por quer. Aos 19 anos meu pai me reconheceu como filho. Mas nunca, nunca em minha vida, eu deixei de ser IGNORADO, pois acredito que um filho não se conhece depois de 19 anos...

abraços

Hugo

Vem desfrutar do Amor de Deus disse...

Muito bom esse texto. Espero que um dia pessoas enxerguem que posição social é apenas um detalhe. Somos todos iguais e por isso devemos ser tratados como tal.
Eu graças a Deus não faço diferença de pessoas e trato a todos igual. Tenho a consciência tranquila quanto a isso.
Nanda, fiquei de fora das doações né? puxa que chato, mas eu tentei entrar em contato com você antes.
Fica pro ano que vem, fazer o que né?
E seu avô? está bem?
Beijos pra você
Marcia
Ps: passa lá no blog que tem selinho pra você...